História

O Porco de Raça Alentejana é, na pecuária extensiva, o melhor exemplo do animal perfeitamente adaptado ao ecossistema Montado e ao habitat que este lhe proporciona. Reúne todas as condições de exploração dos recursos naturais do Montado tirando, por um lado, partido e maximização dos seus resultados e rendimentos e, por outro, conseguindo resistir às condições adversas da natureza, utilizando a gordura acumulada durante a montanheira ao longo do ano.

O Porco Alentejano tem um grande potencial de transformar bolota em carne podendo, assim, ser encarado como um animal que no período de Montanheira acumula gorduras que lhe vão proporcionar, no resto do ano, reservas que permitem complementar as alimentações umas vezes pobres e de deficiente constituição e, outras vezes, muito escassas e transformá-las em motor da vida até à próxima montanheira.

Poder-se-á dizer que “ o porco está para a bolota e para o montado, como o camelo está para a água e para o deserto”. Foi este binómio que, através dos tempos, o transportou junto dos povos suportando com eles as farturas e as minguas daqueles que a todo o momento ficam dependentes do rigor da natureza.
Durante o Império Romano já os produtos obtidos a partir do “porco local” eram prestigiados, em conjunto com os azeites, vinhos e metais preciosos, constituíam as matérias-primas que os romanos levavam para as suas mesas de forma a impressionar os convidados.

Acerca do porco dizia-se: “não há animal de onde se aproveitem tantas coisas que sirvam para satisfazer a gula, porque enquanto o porco tem cerca de cinquenta sabores diferentes os outros animais têm apenas um”.
Posteriormente, no séc. VII, com a chegada dos árabes, era de esperar que a população de porcos ibéricos diminuísse, em virtude do código religioso por eles adotado, o Corão, proibir o consumo de carne de porco. Na verdade, aconteceu precisamente o contrário, verificando-se mesmo um aumento do consumo e até em Córdova (capital do reino árabe da Península Ibérica) a carne de porco era considerada um alimento muito são.

Após a unificação religiosa da Península, levada a cabo no reinado dos Reis Católicos Fernando e Isabel, em frente das mesquitas edificadas pelos árabes são construídas igrejas adornadas no seu exterior com santos acompanhados por porcos, fórmula encontrada para mais humilhar os mouros.

Durante a inquisição, a carne de porco servia para se saber com quem “se dividia a mesa”. No início da refeição era servido um prato com carne de porco. Se o convidado o rejeitasse logo se sabia que de um judeu se tratava.

Já na idade moderna a carne de Porco Alentejano continuou a ser um prato preferido e pelas melhores mesas, ainda que houvesse dificuldade na aquisição dos produtos dele derivados, ciosamente reservados pelos seus produtores ou para consumo próprio da casa de família ou para honrar, através de ofertas, amigos e pessoas de importância social relevante.

Em 1870 o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, publica o Recenseamento Geral dos Gados no Continente do Reino de Portugal. Em relação à distribuição de suínos pelo país, é dito nessa importante obra:

“Quanto ao número de possuidores de cabeças d’este gado, não há para nenhuma outra espécie tão avultado numero como para esta. É que similhante gado, principalmente na industria da ceva, vae do mais abonado lavrador ao mais mísero cabaneiro; porque os menos afortunados é da rez suína que tiram unto para o fumeiro, que engorda um tanto e dá tempero à sua magra panella… é por isso também não admira que sejam os possuidores de 4 a 5 cabeças os que predominam e a ponto d’elles só constituírem 95,8 por cento da totalidade dos possuidores e estes taes geralmente espalhados por todos os districtos do reino, preponderando mais ao Norte, onde a propriedade está mais dividida, do que no Sul. Aqui é unicamente onde se deparam os poucos possuidores de rebanhos de suínos que vão de 300 a 1000 cabeças, dos quaes só se encontram 39 em Portalegre, 31 em Évora, 27 em Beja, 7 em Santarém e 1 em Lisboa, correspondendo este números de alguma modo à proporção de montados de azinho e sobro que aqui se apontam propostos à ceva suína.”
Base essencial da dieta alentejana, o porco, é integralmente aproveitado para alimentação das populações locais, como se verifica nos versos do autor abaixo referenciado.

“Vai uma festa em casa.
E agora a chama doira de glória o corpo do imolado.
Matou-se o porco.
É bem singelo o drama, mas como o ser nos freme alvoraçado”.
(António Sardinha)

O Porco de Raça Alentejana tem alternado entre o médio e o alto na escala de valores e de importância que, em cada momento da história dos povos, o reconheceram e souberam usar com sabedoria em prol da existência humana.

Longos anos passaram e, com a difusão das raças precoces, muitos foram os criadores que substituíram, nas suas explorações, os porcos de Raça Alentejana por porcos de raças muito produtivas. O êxodo rural, os grandes surtos de Peste Suína Africana e as diversas situações socioeconómicas da população, fizeram com que o número de reprodutores de Raça Alentejana descesse a níveis tão baixos que, em tempos, foi considerada uma Raça ameaçada de extinção.

A partir de 9 de Abril de 1990 esta situação começa a inverter-se.

É formada a Associação de Criadores de Porco Alentejano e, desde então, uma luta sem cartel impulsionou as produções, motivou os criadores, difundiu a Raça, apoiou as indústrias e fez renascer uma realidade que já tinha grande importância do outro lado da fronteira e que estava adormecida em Portugal.
O Porco Alentejano é, hoje, uma raça que passou do limiar da extinção a um sucesso plenamente conseguido e que se encontra ainda em grande desenvolvimento.

A ACPA, pelo esforço despendido, pelo desempenho da sua Direção e pelo trabalho incansável e inesgotável dos seus técnicos, teve inegável contribuição para que o crescimento pudesse acontecer.

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